Como relatado no post anterior, quando cheguei no Hospital Mãe de Deus em Porto Alegre, RS, para dar a luz, fiquei desapontada com o tratamento na maternidade. Eu não tinha contato prévio com hospital, mas achei de estrema frieza a lida do staff. Antes, eu havia visitado a maternidade, conhecido parte das instalações e tirado dúvidas. No entanto, porque a maternidade estava lotada, não conheci a sala de parto em si, mas me asseguraram que teria acesso a facilitadores como a bola de pilates, a banqueta de parto e etc. Como já disse, não foi assim que aconteceu… Como não tive a experiência completa de um parto natural, me cabe falar dos aspectos pós cirúrgicos do hospital.
Depois da cirurgia, me levaram para a sala de recuperação. Uma sala com várias cortinas, cada uma delimitando um “box”. Fiquei lá sozinha, sem poder me mexer e finalmente caiu a ficha de que minha filha tinha nascido, eu tinha passado horas em trabalho de parto e recém feito meu primeiro procedimento cirúrgico. Chorei com a realização de tudo que tinha acontecido e embora tenha durado horas, o quão rápido pareceu. De repente meu marido chega com a Stella para mostrar aos avós “na janela” da maternidade, que dá para a sala de espera. Quando retornou, a enfermeira mandou ele se trocar e enquanto ele estava fora, ela colocou a Stella no meu peito para mamar. Esse foi o momento mais desesperador da minha noite. Me colocaram um bebê nos braços, no peito, mas eu estava completamente deitada e não conseguia me mexer para acomodar o bebê no seio. Foi horrível e até agora me emociono com o sentimento de impotência de ter aquela coisinha nos meus braços e não conseguir fazer nada do que parece instintivo. Eu chamei a enfermeira porque achei que o bebê estava sufocando. Pedi para ela erguer a cabeceira da cama para eu poder lidar melhor com ela, mas a enfermeira disse que não podia porque eu teria dores de cabeça e tirou ela de mim. Fiquei muito agoniada. É a coisa mais cretina do mundo colocar um bebê ao lado de uma pessoa que quer, mas não consegue se mexer o suficiente para lidar com ele. Meu marido então chegou e ficou com a Stella enquanto eu só podia olhar. Eu odiei o fato de ter dado a luz um bebê o qual não consegui segurar junto de mim quando nasceu, nem amamentar, cheirar, examinar, entender que era meu. Ficamos na sala de recuperação por muitas horas além do que deveria. Eram tantas cesarianas marcadas naquela noite, que não tinha staff para liberar as pessoas da recuperação para o quarto. Foi um tremendo desrespeito. A sala de recuperação é uma bagunça onde você não consegue descansar porque as pessoas conversam, os bebês choram e a cada momento entra um novo pai emocionado com um novo bebê para mostrar na janela e você escuta as pessoas gritando no lado de fora. Não dá para se recuperar de nada nesse ambiente! E quando um bebê chora, os outros acompanham. Meu marido tinha ido comer algo, pois também estava sem comer há quase 24 horas, como eu, e fiquei sozinha. Então, um bebê começou a chorar e a Stella começou a chorar também. Chamei a enfermeira para me entregar ela e a enfermeira resolveu levar ela para tomar complemento no copinho para se acalmar. Quase surtei! Pedi que não levasse porque eu não queria dar complemento, mas a enfermeira nem me respondeu. Fiquei ligando pro meu marido, chorando, me sentindo um ser inútil por ter uma filha e não conseguir impedir que levassem ela de mim. Achei um absurdo a enfermeira dar complemento pra uma criança que nasceu há duas horas, sendo que um bebê pode ficar três dias sem comer e não morrer de fome! Quando meu marido chegou foi direto ver o que a enfermeira estava fazendo, mas ela já tinha dado o complemento e estava colocando mil roupas na criança, pois a sala estava gelada e a roupa que ela estava foi planejada para uma temperatura amena, como me disseram que seria na maternidade. Depois de a criança ser vestida com dois macacões, meias, luvas e toca, a enfermeira resolveu desligar o ar e minha filha, então, passou calor. Ficamos seis horas na sala de recuperação. O previsto eram três. Depois de 24 horas acordados, cansados, depois de um dia como aquele, ainda tivemos que esperar devido a falta de organização do hospital. Além disso, quando íamos para o quarto meu marido descobriu que a central da internação não tinha passado para a sala de recuperação a informação de que ficaríamos num quarto privativo, então quase fomos para um quarto semi-privativo, onde não tem lugar para o acompanhante. Realmente um desrespeito.
Quando finalmente fomos para o quarto, às 2:30h da madrugada do dia 27/01, a enfermeira me disse que eu precisava tomar banho. Sim. Tomar banho. Segundo ela, já fazia seis horas da cirurgia e eu precisava caminhar e tomar banho por causa da anestesia. Eu não conseguia manter meus olhos abertos, concatenar palavras pra que saíssem de forma coerente da minha boca, e a criatura queria que eu levantasse e tomasse um banho. Parecia piada. Eu consegui levantar, mas não conseguia me mexer e ela dizia: “Mas tu precisa tomar um banho!”. Eu disse que se eu me mexesse iria cair de cansaço, porque eu não estava nem enxergando direito. Ela então disse que era melhor não e me deitou de novo. No outro dia, contei o episódio ao médico que disse que aquilo era o mais completo absurdo. Que eu não deveria nem poderia tomar banho antes de passadas 12 horas da cirurgia. Passado isso, eu achei que teria paz, mas ainda veio uma enfermeira falar sobre amamentação e como evitar quedas e outras para me dar remédio intravenoso naquele acesso que me causava dor e preocupação porque parava dependendo de como eu mexia o braço. Quando finalmente pudemos descansar os três, sempre havia alguém entrando no quarto para uma coisa ou outra. E assim foi durante as 48h de estadia no hospital. Além disso, Não tinham deixado lençol ou toalha para meu marido. E ele ainda dormiu sem travesseiro.
Nesse momento eu já podia ingerir líquidos, então pude beber água. Me deram também um suco industrial de maçã. Para meu marido, nada. Graças ao plano de saúde, ele tinha vouchers para usar no restaurante dos acompanhantes por dois dos três dias previstos de internação. Na manhã seguinte, às sete horas já tinha gente no quarto, ministrando remédios, mexendo na Stella, limpando. Uma alegria para quem tinha conseguido dormir às 03:00h. E como dormir com o desconforto de uma cirurgia? E uma sonda? E um bebê que você olha a cada mudança na respiração? E seu marido, que você chama para que lhe entregue o bebê ou coloque o bebê de volta no berço? É muita coisa!
A comida do hospital é exatamente isso: comida de hospital. Durante as 48h de internação o que mais aproveitei foi o café da manhã e da tarde, porque a comida em si me dava repulsa. Eu achei estranho servirem café na maternidade, considerando que cafeína agita o bebê, mas como não existe mais berçário, azar o seu né?!
O tempo que fiquei no hospital foi mesmo ruim. A única coisa legal foi que lhe dão uma lata com shampoo, loção e lencinhos da Johnson’s e um kit da Life com Bepantol Baby, uma pomada para cicatrização e um mini pacote de fraldas. Além disso, você recebe dez fraldas Pampers RN e um pacote de absorvente noturno. Só. Quando o médico me liberou com um dia de antecedência, eu fiquei feliz mas receosa, afinal, ir pra casa nesse estado pós cirúrgico com um bebê novo me deu medo. Mas tirando o remédio na veia, nada no hospital podia ser vantajoso em relação a minha casa. Não houve descanso no hospital. Cheguei às 12:30h do dia 26/01 e saí às 19h do dia 28/01, mas na minha cabeça ainda era dia 25/01, pois eu fui dormir na noite do dia 25 e tudo aconteceu sem parar até ali. Foi em casa que eu notei que já haviam se passado dias.
Com minha experiência, eu sugiro que você possa conhecer os hospitais disponíveis o mais rápido possível. Eu havia lido que o Mãe de Deus era preparado para parto humanizado, mas não é verdade. Nem a estrutura nem o staff tem qualquer noção de parto humanizado. Quando eu disse para a enfermeira que não queria ficar ligada na máquina de monitoramento fetal, ela disse que eu teria que assinar um termo de responsabilidade que dizia que não permiti que elas fizessem o trabalho dela. PQP, né?! Como é que meu médico não me fez ficar amarrada naquilo? E outra, embora eu tenha escrito um Plano de Parto, assim como meu próprio médico, nenhuma enfermeira quis sequer olhar o meu Plano, ou seja, ninguém liga pra você. Você é um problema que tem que ser resolvido e, de preferência, logo.
Com relação ao seu filho, não importa que tenha um nome. Será tratado como RN de FULANA durante toda a internação. Quando entram no quarto perguntam o nome, ninguém lê a placa na porta…
Se você está grávida ou pretende ficar, estude e se informe. Se informe sobre os tipos de parto, sobre o pós parto, sobre a maternidade e a internação. Infelizmente Porto Alegre não tem muita referência em parto humanizado e eu ouvi dizer que o melhor hospital nesse aspecto é o Conceição, o qual atende SUS. Além disso, a encantadora idéia de ter um parto cirúrgico para evitar as dores das contrações é realmente bonito na teoria, pois tenho certeza que é muito melhor você sair caminhando da sala de parto, com seu bebê nos braços, do que passar a próxima semana sem conseguir se mexer de forma natural e sem conseguir cuidar do seu bebê.

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